Estar acima do peso ou ter obesidade aumenta significativamente o risco de doença hepática e a probabilidade de morrer em comparação com estar no peso normal, independentemente do nível de consumo de álcool, mostra uma nova pesquisa, publicada no European Journal of Clinical Nutrition.
“Pessoas com sobrepeso ou obesidade que bebem correm maior risco de doenças hepáticas em comparação àquelas com peso saudável que consomem álcool no mesmo nível”, disse em um comunicado à imprensa o autor sênior da pesquisa, Emmanuel Stamatakis, PhD, do Charles Perkins Center e a da Faculdade de Medicina e Saúde de Sydney, Austrália.
“Mesmo para pessoas que bebiam dentro das diretrizes de consumo de álcool, os participantes classificados como obesos tinham um risco 50% maior de doença hepática”, disse ele.
“A obesidade é um fator de risco independente para esteatose, hepatite alcoólica aguda e cirrose na doença hepática gordurosa (DHG), o que pode aumentar o risco de mortalidade em pacientes com DHG”, disse ao Medscape Medical News o primeiro autor do estudo, Elif Inan-Eroglu, PhD, pesquisador de pós-doutorado do Charles Perkins Center.
Na pesquisa, os autores destacam como espera-se que a incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA, também chamada esteatose metabólica) e doença hepática gordurosa (DHG, também chamada esteatose alcoólica) cresça como consequência da obesidade contínua e das tendências de consumo de álcool.
Nesse contexto, a pesquisa buscou compreender as associações conjuntas de adiposidade e consumo de álcool com morbidade e risco de mortalidade relacionados a doenças hepáticas.
Examinou-se as associações conjuntas de adiposidade (índice de massa corporal [IMC] e circunferência da cintura [CC]) e consumo de álcool na DHG, DHGNA e incidência de doença hepática e mortalidade (n = 465.437).
O consumo de álcool foi categorizado com base nas diretrizes atuais do Reino Unido (14 unidades por semana). Os dados foram analisados usando modelos de risco proporcional de Cox. Um total de 1.090 mortes por doença hepática, 230 mortes por DHG e 192 mortes por DHGNA ocorreram ao longo de um período médio de acompanhamento de 10,5 ± 1,7 anos.
Em modelos multivariados, observou-se estimativas pontuais maiores para risco de DHG, DHGNA e incidência de doença hepática e mortalidade entre participantes com sobrepeso / obesos que consumiram álcool no mesmo nível que participantes com peso normal.
Descobriu-se que participantes com sobrepeso / obesidade que relataram consumo de álcool acima das diretrizes tiveram maior taxa de risco (HR) para incidência de doença hepática e mortalidade (HR 1,52, IC 95% 1,32, 1,75 e HR 2,20, IC 95% 1,41, 3,44, respectivamente) do que indivíduos com peso normal (HR 0,95, IC 95% 0,83, 1,09 e HR 1,24, IC 95% 0,8, 1,93, respectivamente).
Os resultados para as associações de consumo de álcool e circunferência da cintura com DHG, DHGNA e mortalidade por doença hepática foram semelhantes. Participantes com CC elevada que relataram consumo de álcool acima das diretrizes tiveram maior HR para incidência de doença hepática (HR 1,59, IC 95% 1,35, 1,87) do que indivíduos com CC normal (HR 0,85, IC 95% 0,72, 1,01).
Assim, o estudo encontrou evidências de que o sobrepeso / obesidade amplificou o efeito nocivo do álcool na incidência e mortalidade de doença hepática.
Mais estudos prospectivos são necessários para entender melhor os mecanismos subjacentes à associação entre consumo de álcool e doença hepática em diferentes níveis de adiposidade, dizem os autores.
Fontes:
European Journal of Clinical Nutrition, publicação em 31 de maio de 2021.
Medscape, notícia publicada em 08 de junho de 2021.